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Exibição de cinema em sala em Portugal 2022

Ana Paula Miranda e José Soares Neves

Publicado a 18 de outubro de 2023

O Instituto Nacional de Estatística (INE) recolhe e publica informação sobre cinema em Portugal desde 1950. Até 2005 a informação teve como fonte o seu Inquérito ao Cinema. A partir de 2006 o INE passou a considerar como fonte o organismo público de tutela do sector, desde 2007 o ICA-Instituto do Cinema e do Audiovisual (INE, 2007, p. 5) de acordo com o projeto de informatização das bilheteiras (Decreto-Lei n.º 125/2003, de 20 de julho) que está na base da informação disponibilizada. Neste texto toma-se como referência a série temporal longa que vai de 1950 a 2022.

Esta série permite uma aproximação à evolução anual das sessões, dos espectadores e das receitas dos ingressos do cinema em Portugal, embora com algumas lacunas em alguns anos (sessões e espetadores em 1957; receitas, série contínua apenas a partir de 1961) e das duas quebras de série (que implicam limitações comparativas com os anos anteriores), por reestruturação do projeto do INE, em 1999 e em 2006, este último, como referido, o primeiro ano em que os dados do ICA passaram a integrar as estatísticas oficiais. 

Entrando na análise dos dados, e a começar pelas sessões (gráfico 1), numa primeira leitura são bem visíveis dois grandes períodos delimitados pela viragem do século, sendo que no mais recente assistimos a um fortíssimo incremento na oferta disponível impulsionada pelas alterações nos equipamentos de exibição com a multiplicação de recintos com várias salas/écrans (multiplex), de relativamente baixa lotação – note-se que o número médio de espetadores por sessão era de 41 em 1999 e se situa em 18,9 em 2022 – mas com diversificação e intensificação do número de filmes exibidos, o que permite aproximar a oferta e a procura.

De um modo mais fino, podem-se identificar cinco períodos distintos: até 1988; 1989 a 1994; 1995 a 2005; 2006 a 2019; e o mais recente, constituído pelos anos de 2020, 2021 e 2022 todos marcados, como se sabe, pela pandemia do Covid-19.

Até 1988, embora com algumas oscilações, há um crescimento notório das sessões (nesse ano são 213.540), tendo diminuído de forma significativa nos anos seguintes e até 1994, ano em que se registam 125.622 sessões.

Gráfico 1.png

Pelo contrário, no período que se segue até 2005 regista-se um crescimento permanente e muito acentuado. O número de sessões passa de 125.622 em 1994 para 718.537 em 2005, quando regista o valor mais elevado desta série. No período entre 2006 até 2019 registam-se de novo algumas oscilações, mas agora num patamar significativamente mais elevado do que o registado até 1988. No ano que antecede a crise pandémica o número de sessões era 661.629.

Esse número diminui drasticamente devido às medidas de contenção da pandemia, designadamente os períodos de encerramento das salas de cinema nos grandes confinamentos (18 de março a 01 de junho de 2020 e de 15 janeiro a 19 de abril de 2021), sendo que nem todas reabriram fora e posteriormente a esses períodos: em 2020 o seu número é 276.982, número que se situa ao nível do verificado em 1997. Para além dos efeitos decorrentes da crise sanitária na oferta de filmes e na atividade das salas, estes dados refletem também os efeitos da digitalização e do consumo doméstico que já antes se verificavam, mas que se acentuaram nesse contexto. Em 2022 o número de sessões regista a continuação, agora já mais acentuada, da recuperação iniciada em 2021 (para 509.806) mas permanece ainda longe dos valores registados no período pré pandémico.

Em relação aos espectadores podem ser também consideradas várias fases (gráfico 2). Depois de um período relativamente estável que vai até ao início da década de 70, constata-se um crescimento muito acentuado, registando-se o valor mais elevado da série em 1976 com 42.812 mil ingressos. Segue-se uma fase de quebra muito acentuada que só se inverte a partir de 1994 (nesse ano registam-se 7.133 mil entradas). A partir daí a procura aumenta até 2002 (19.478), mas diminui depois novamente até 2014 (12.091). Diversos motivos podem explicar esta diminuição  maior diversidade de oferta em outros formatos, como o caso do DVD, dos novos canais televisivos, downloads de vídeos na internet. Cresce ligeiramente nos anos seguintes com uma quebra em 2018. Em 2019 regista-se de novo uma pequena subida (15.541 mil espetadores). Contudo, em 2020, devido à crise pandémica regista-se o valor mais baixo desta série, 3.803 mil entradas. Em 2021 e, sobretudo em 2022 verifica-se alguma recuperação do número de espetadores (5.480 e 9.614 respetivamente) mas com valores ainda muito inferiores ao de 2019 (15,5 milhões).

Gráfico 2.png

Quanto às receitas provenientes dos ingressos (é o indicador com mais lacunas de dados, a série tem início em 1961 e não em 1950) (gráfico 3) até 1995, embora com algumas oscilações, verifica-se algum crescimento, mas num patamar inferior se comparado com o registado posteriormente, crescimento que se acentua dramaticamente até 2004 (€76 milhões). 

Gráfico 3.png

Regista-se depois um ciclo de quebra até 2006, que se inverte depois até 2010, voltando a inverter-se. Contudo, verifica-se uma recuperação nos últimos anos. No ano 2019 regista-se o valor mais elevado desta série, €83 milhões. Este novo ciclo é abruptamente quebrado pela pandemia com as receitas a caírem para valores na ordem dos €21 milhões. Em 2021 com o fim das restrições, verifica-se uma recuperação (€31 milhões) que se se acentua em 2022 (€55 milhões), valor esse que, apesar de tudo, tal como nos outros indicadores, está ainda significativamente distante dos valores pré-pandemia (€83 milhões em 2019). 

Uma abordagem comparativa da evolução conjunta das três séries num período mais curto, recorrendo a um índice de base 100 em 1979 (ano em que estão disponíveis dados para os três indicadores) mostra que o crescimento é mais notório nas receitas, seguido do das sessões e, por último, dos espetadores (gráfico 4). O ano de 1991 é o que permite balizar a fase mais acentuada de crescimento das receitas (sendo que, no entanto, já se tinham verificado picos, em específico nos anos 1986 e 1988). No período mais recente, registam-se oscilações significativas com a queda acentuada de 2010 para 2014 que se inverte depois até 2019. As receitas situam-se sempre num patamar muito acima dos restantes dois indicadores.

Em 2019 regista-se, por um lado, acréscimos de cinco pontos percentuais nos ingressos de espetadores e seis pontos percentuais nas receitas de bilheteira relativamente ao ano anterior e, por outro lado, estabilidade nas sessões promovidas (com apenas menos quatro décimas).

Em 2020, registaram-se as quedas mais acentuadas da série com destaque para os espetadores que diminuíram 75,5% relativamente a 2019, seguidos das receitas que caíram 75,3% e das sessões que diminuíram 58,1%. 

Em 2021, confirma-se uma certa recuperação, com as receitas com os valores mais elevados (48,9%) relativamente ao ano anterior, seguidas dos espetadores que aumentaram 44,1% e das sessões, com um aumento mais modesto, de 19,1%. 

 

Em 2022, o último ano em análise, registam-se os crescimentos mais acentuados da série, com destaque para as receitas que aumentaram 80,9% relativamente a 2021, seguidas dos espetadores que aumentaram 75,4% e das sessões, que aumentaram 54,3%. 

Nota metodológica:

Registam-se duas quebras de série no período considerado, em 1999 e 2006. Em 1999 o INE reestruturou o “Inquérito Trimestral aos Espetáculos Públicos”, o qual esteve em vigor até 1998 (inclusive). Da reestruturação resultou o “Inquérito aos Espetáculos ao Vivo” que passou a ter periodicidade anual excluindo a modalidade "Cinema", cuja informação passou a ser recolhida na operação estatística “Inquérito trimestral ao cinema - exibição" até 2005.  Em 2006, os dados do Cinema passaram a ser recolhidos pelo ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual, de acordo com o projeto de informatização das bilheteiras (Decreto-lei nº 125/2003, de 20 de junho), que o INE incluiu nas estatísticas oficiais e passou a difundir.

 

O INE considera:

– sessão “apresentação pública concreta de um espetáculo com hora de início predefinida” (INE, 2022, p. 294).

– espetador “indivíduo que possui direito de ingresso, pago ou gratuito, para uma sessão de espetáculo” (INE, 2022, p. 288).

– receita de bilheteira “receita proveniente da venda dos bilhetes de ingresso, sendo igual ao número de bilhetes vendidos vezes o preço unitário” (INE, 2022, p. 293).

Âmbito geográfico:

Portugal

Referências

Instituto Nacional de Estatística (2021). Estatísticas da Cultura 2021, INE.

Instituto Nacional de Estatística (2005). Documento Metodológico Inquérito aos Espetáculos ao Vivo – 2005, versão 1.0. INE.

Instituto Nacional de Estatística (2007). Estatísticas da Cultura, Desporto e Recreio 2006. INE.

 

Webgrafia

ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual, I.P. <www.ica-ip.pt>.

INE – Instituto Nacional de Estatística, <www.ine.pt>.

Legislação

Decreto-Lei n.º 125/2003, de 20 de junho - Informatização de Bilheteiras (Regula a emissão de bilhetes e a transmissão de dados de bilheteira).

Como citar: Miranda, A. P. & Neves, J. S. (2022). Exibição de cinema em sala em Portugal 2022.                          OPAC-Observatório Português das Atividades Culturais, CIES-Iscte, Iscte-IUL.

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