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Concertos de música em Portugal

José Soares Neves e Ana Paula Miranda

Publicado a 21 de agosto de 2020 e atualizado a 16 de fevereiro de 2021

O Instituto Nacional de Estatística (INE) recolhe e publica informação em específico sobre concertos de música em Portugal desde 1979. Neste texto toma-se como referência a série temporal 1979 a 2019. Esta série histórica permite uma aproximação à evolução anual da oferta (sessões), da procura (espectadores) e das receitas provenientes das entradas. 

 

Quando às sessões, numa primeira leitura é bem visível uma evolução em duas grandes fases cuja charneira coincide com a viragem do século (gráfico 1). Com a exceção de 1987 (2205 sessões, das quais 2167 em Lisboa), ano da morte de José Afonso a 23 de fevereiro e do segundo concerto a solo de Amália Rodrigues, a 3 de abril, no Coliseu dos Recreios - a primeira fase carateriza-se pelos números muito baixos em comparação os da segunda. Note-se que 1998 foi o ano de realização de um mega-evento cultural com grande impacto, a Exposição Mundial de Lisboa (Expo’98). Na segunda fase importa distinguir vários períodos. Um primeiro, de crescimento até 2003, seguido de um outro que se caracteriza por um forte crescimento e que vai até 2008. Entre 2009 e 2011 é visível a interrupção do crescimento verificado desde 2003, e que coincide com a crise financeira e económica internacional. Os dois anos seguintes, 2012 e 2013, são de recuperação do crescimento, com nova quebra nos dois anos seguintes e recuperação continuada nos anos mais recentes. A discriminação das sessões de pop/rock a partir de 2011 (primeiro ano em que esta modalidade foi considerada pelo INE) relativamente às de outros concertos mostra bem o impacto, modesto em proporção, mas decisivo na evolução verificada.

Gráfico 1.png

Em relação aos espectadores, são também visíveis duas fases muito distintas. Na fase posterior à viragem para o século XXI importa notar de novo vários períodos. O número de espectadores sobe substancialmente até 2003, depois fortemente até 2008, a que se segue a quebra associada à crise, seguido de recuperação até 2019 (Gráfico 2). O impacto do pop/rock é bem visível no total dos espetadores e na recuperação então verificada face ao período anterior. No ano de 2019 regista-se o número de espetadores mais elevado, com 8.978 mil espetadores, destacando-se os concertos de pop/rock que representam 53% do total dos espetadores de concertos de música nesse ano. O impacto dos espetadores do pop/rock é bem visível em todo o período em que esta modalidade está disponível (2011-2019).

Gráfico 2.png

Quanto às receitas, são visíveis três grandes fases, dado que até 1991 os valores são quase inexistentes. Mas nesta vertente a principal viragem dá-se em 2004, mais tarde do que nos dois anteriores indicadores, (Gráfico 3). O contraste entre as fases é igualmente vincado: muito baixo até 2004, muito elevado depois.  Nesta fase nota-se também a quebra no período da crise financeira e económica. Contudo, verifica-se que o início da recuperação acontece ainda no período em que Portugal esteve sob resgate (2011-2014), recuperação que se deve aos concertos pop/rock. Em 2019 regista-se o valor mais elevado desta série, €99 milhões de euros. A modalidade concertos pop/rock significa 76% do total.

Gráfico 3.png

Nota metodológica:

A série aqui tratada (1979 a 2019) tem duas quebras de série, em 1999 e 2011. Entre 1979 a 1998 a modalidade Concertos de música tinha a designação Concertos. Em 1999 o “Inquérito Trimestral aos Espetáculos Públicos” foi reestruturado e esteve em vigor até 1998 (inclusive). Da reestruturação resultou o “Inquérito aos Espetáculos ao Vivo” que passou a ter periodicidade anual. Procedeu-se também a uma melhor caraterização do universo das entidades promotoras de espetáculos de natureza artística, tendo-se efetuado uma atualização do respetivo ficheiro através de um “Levantamento das Entidades Promotoras de Atividades Artísticas e de Espetáculos”. A modalidade Concertos de música passou a ser apresentada desagregada em Concerto música clássica e Concerto música ligeira, sem um total, até 2010.

Em 2011, verificou-se uma reformulação metodológica passando a recolha da informação a ser feita por via eletrónica (WEBINQ) a partir de 2012 (ano de referência dos dados 2011). Foram realizadas alterações no questionário, no âmbito, nas classificações e nos conceitos utilizados que passaram a ter por base a metodologia do relatório ESSnet (European Social Statistics net) Culture Statistics (Bina et al., 2012). A modalidade Concertos de música, passou a incluir o total da Música que corresponde à soma das submodalidades: música clássica, barroca, antiga; música popular e tradicional portuguesa; fado; jazz/blues; pop/rock (inclui hard-rock, heavy metal e estilos relacionados); outro estilo de música.

 

O INE considera:

- sessão “apresentação pública concreta de um espetáculo com hora de início predefinida” (INE, 2020). 

- espectador “indivíduo que possui direito de ingresso, pago ou gratuito, para uma sessão de espetáculo” (INE, 2020).

- receita de bilheteira “receita proveniente da venda dos bilhetes de ingresso, sendo igual ao número de bilhetes vendidos vezes o preço unitário” (INE, 2020).

Âmbito geográfico:

Portugal

Referências

Bina, Vladimir et al. (2012), ESSnet-Culture Final Report, Luxemburgo, ESSnet Culture e Eurostat.

INE (2020), Estatísticas da Cultura 2019, Lisboa, INE.

INE (2012), Documento Metodológico Inquérito aos Espetáculos ao Vivo – 2012, versão 2.0., Lisboa, INE.

INE (2005), Documento Metodológico Inquérito aos Espetáculos ao Vivo 2005, versão 1.0, Lisboa, INE.

INE (1988), Estatísticas da Cultura, Desporto e Recreio 1987, Lisboa, INE.

Webgrafia

INE – Instituto Nacional de Estatística, <www.ine.pt>.

Como citar: Neves, José Soares e Ana Paula Miranda (2020), Concertos de música em PortugalLisboa,                      OPAC-Observatório Português das Atividades Culturais, CIES, ISCTE-IUL.

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