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Participação cultural na União Europeia: leitura de livros

Miguel Ângelo Lopes e José Soares Neves

Publicado a 1 de agosto de 2019 | Revisto a 9 de agosto de 2019

A relação dos europeus com a cultura, nomeadamente no que diz respeito à participação cultural nos países da União Europeia (UE) pode ser aferida através do Eurobarómetro (2007 e 2013), do Adult Survey Education (AES) – ou a designação em português: Inquérito à Educação e Formação de Adultos (IEFA) –, de 2007, 2011 e de 2016. Ambos contemplam módulos com questões sobre atividades culturais, como a leitura de livros (genericamente considerados, no Eurobarómetro, ou como atividade de lazer, no AES/IEFA) a que aqui nos dedicamos. O objetivo deste texto é dar nota da evolução desta prática, primeiro numa perspetiva comparada na UE, e depois especificamente para Portugal.

É de notar que os europeus relacionam “cultura” maioritariamente com as artes, mas também com literatura, tradições, linguagem e costumes (Eurobarómetro 278, 2007: 83), e que existe uma regularidade no que diz respeito aos perfis dos indivíduos com níveis de práticas culturais mais elevados: são mais jovens, mais qualificados profissionalmente e, em particular, mais escolarizados. A escolaridade, aliás, tem um peso determinante, sendo a variável que “mais claramente contribui para explicar as desigualdades culturais na UE” (Neves, 2015: 36)

Numa primeira análise, recorrendo aos dados do AES (figura 1), podemos observar que, dos 21 países considerados, em 17 a percentagem de indivíduos que leram pelo menos um livro desceu – acima dos 10% no caso da Chéquia, Lituânia e Eslovénia – tendo subido em apenas três – Alemanha, Itália e Grécia. Os países que em 2011 apresentam as percentagens mais elevadas são a Alemanha, a Áustria, a Finlândia e a Estónia, todos acima de 70%.

Fig. 1.png

Neste indicador Portugal regista uma descida de 2% entre 2007 e 2011, mantendo-se nas posições mais baixas, com 41% de indivíduos a lerem pelo menos um livro.

 

O panorama mantém-se quando analisamos os dados do Eurobarómetro, patentes na figura 2.

Fig. 2.png

Uma vez mais, de 2007 para 2013, observa-se um decréscimo generalizado nos 28 países da União Europeia (EU) – 19 descem (em linha com a média do conjunto dos 28 países), 7 sobem e 2 mantêm –, com a Suécia, a Holanda e a Dinamarca a apresentarem os valores mais elevados (acima de 80%), e com 14 países abaixo da média a 28 (em 2007 eram apenas 12).

Neste indicador, e para o ano de 2013, Portugal aparece em último lugar registando 40% (decresceu 10% face a 2007), uma percentagem que está abaixo da média da UE28 em 28 pontos percentuais, quando em 2007 essa diferença era de 21 pontos percentuais.

Focando-nos agora apenas em Portugal, e introduzindo dados mais recentes (os do IEFA) para 2016, confirma-se a tendência decrescente continuada na percentagem de indivíduos que leem pelo menos um livro (figura 3).

Fig. 3.png

Veja-se que em 9 anos a percentagem dos que leem pelo menos um livro por ano decresce 4%.

Ainda quanto a Portugal, agora no que respeita aos leitores que declararam ter lido mais do que um livro no período de referência (últimos 12 meses) –, observa-se que o retrocesso é mais vincado entre os grandes leitores (figura 4).

Fig. 4.png

Pouco mais do que um quarto dos inquiridos lê menos do que cinco livros por ano. Embora tenha existido uma descida entre 2011 e 2016 (de 0,2%) este é o contingente onde se verifica o menor decréscimo.

Por sua vez, os indivíduos que leem entre cinco a 10 livros por ano decresceram dois pontos percentuais. Se em 2011 representavam quase um em cada 10 dos inquiridos, em 2016 ficam sensivelmente abaixo dessa fasquia.

Já o contingente dos grandes leitores (acima de 10 livros por ano) decresceram quase um ponto percentual, e representavam, à data, menos do que 5%.

Nota metodológica:

O Inquérito à Educação e Formação de Adultos (IEFA) é o mesmo estudo, no plano nacional (INE), que o Adult Education Survey (AES) no plano europeu (Eurostat). No entanto, embora a população alvo do inquérito europeu respeite os indivíduos com idades entre 25 e 64 anos, em Portugal foram inquiridos, no IEFA de 2011 e 2016, indivíduos com idades entre 18 e 69 (no IEFA de 2007 foram inquiridos indivíduos com idades entre os 18 e os 64 anos).

Assim, na comparação dos países da UE opta-se pela fonte AES (figura 1) ao passo que na abordagem de Portugal a fonte é o IEFA/INE (figuras 3 e 4).

A população alvo dos inquéritos Eurobarómetro (278 e 399) são indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos. A Figura 2 foi elaborada com dados que refletem essa população.

No AES/IEFA efetuam-se duas perguntas: “nos últimos 12 meses leu algum livro como atividade de lazer?” e (se sim) “leu menos de 5 livros, entre 5 e 10 livros ou mais de 10 livros?”. No Eurobarómetro (2007 e 2013) pergunta-se “quantos vezes nos últimos doze meses leu um livro?” (com uma escala que vai de “Nunca” a “Mais de 5 vezes”).

Âmbito temporal e geográfico:

Eurobarómetro 278

Entre 14 de fevereiro e 18 de março de 2007 foi realizada a vaga 67.1 do inquérito Eurobarómetro (do qual o Eurobarómetro Especial 278 faz parte) em 28 países europeus: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chéquia Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia, Portugal, Reino Unido, Roménia, Suécia.
 

Eurobarómetro 399

Entre 26 de abril e 14 de maio de 2013, foi realizada a vaga 79.2 do inquérito Eurobarómetro (do qual o Eurobarómetro Especial 399 faz parte) em 32 países europeus: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chéquia, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Noruega, Polónia, Portugal, Reino Unido, Roménia, Suécia, Suíça, Turquia.
 

Adult Education Survey (AES)

A primeira vaga do AES (AES 2007) foi um inquérito-piloto realizado em 26 Estados Membros da UE (a Irlanda e o Luxemburgo não participaram), bem como na Noruega, na Suíça e na Turquia. Esta primeira vaga foi realizada com base num acordo de cavalheiros entre 2005 e 2008 (dependendo do país). A segunda vaga (AES 2011) foi realizada em 27 Estados-Membros da UE (a Croácia não participou), Noruega, Suíça, bem como na Sérvia e Turquia entre julho de 2011 e junho de 2012.

 

Referências

Eurobarómetro 278 (2007), European Cultural Values, Bruxelas, Comissão Europeia.

Eurobarómetro 399 (2013), Cultural access and participation, Bruxelas, Comissão Europeia.

Neves, José Soares (2015), "Práticas culturais e desigualdades na Europa", em Renato Miguel do Carmo e António Firmino da Costa (eds.), Desigualdades em Questão: Análises e Problemáticas, Lisboa, Mundos Sociais, pp. 31–41.

Webgrafia

Eurostat, Adult_Education_Survey

https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Adult_Education_Survey_(AES)_methodology#Basic_concepts
 

Comissão Europeia, Eurobarómetro

http://ec.europa.eu/commfrontoffice/publicopinion/index.cfm/WhatsNew/index

Instituto Nacional de Estatística, documento metodológico IEFA

http://smi.ine.pt/DocumentacaoMetodologica/Detalhes/1441

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