top of page

Os Monumentos Nacionais de Portugal e a abertura ao público (2017-2022): principais indicadores

Sofia Costa Macedo, Maria João Lima, José Soares Neves e Jorge Santos

Publicado a 12 de dezembro de 2023

O Inquérito aos Monumentos Nacionais de Portugal (IMNP), é um projeto anual do OPAC - Observatório Português das Atividades Culturais, implementado em 2019, com dados referenciados ao ano de 2018 (2017 para os visitantes), com o objetivo de construir séries estatísticas sobre a utilização e acesso público, os visitantes e os recursos humanos dos Monumentos Nacionais visitáveis (MN) em Portugal.

A ausência de estatísticas oficiais para o património cultural em Portugal com dados sobre os visitantes (com exceção dos museus) determinou a realização do Estudo “Da Salvaguarda à valorização: os Monumentos Nacionais de Portugal e a abertura ao Público”, no âmbito do qual decorre este Inquérito. (Neves et al., 2020; 2020a; 2020b; Neves et al., 2020c ; Neves et al., 2021; Santos et al., 2022). 

Em 2023 desenvolveu-se a quinta edição com dados referenciados a 2022, em que foram inquiridos 345 MN, dos quais responderam 252, estando visitáveis 225, número que constitui a base da análise desta edição do inquérito (quadro 1). Face ao ano anterior, importa registar importantes acréscimos: no número de MN inquiridos (48%), assim como no número do MN que responderam (20,6%) e são mais 31 os MN visitáveis (16%).

1 - Quadro 1.png

O referido acréscimo na base em análise tem implicações diferenciadas nas dimensões tratadas, importando assinalar alguns dos principais impactos. Ao contrário do que se poderia esperar, o impacto nos visitantes é muito baixo (mais 2%), ao passo que nos recursos humanos é relevante (11% no pessoal ao serviço e 7,5% no pessoal no quadro), bem como nas entidades de gestão privada (que aumentam 29,6%) e, nestas, na Igreja Católica em que 28% são MN que participam pela primeira vez no inquérito.

Distribuição regional dos Monumentos Nacionais visitáveis

De acordo com o mapa 1, os 225 MN visitáveis distribuem-se por todo o território nacional, com maior incidência na região Norte e menor nas Regiões Autónomas, tendência verificada nas várias edições do IMNP. Em 2022 não respondeu nenhum MN dos Açores e observa-se o aumento mais significativo de MN visitáveis (de 8,8% em 2021 para 12,0%) na Área Metropolitana de Lisboa.

2 - Mapa 1.png

Visitantes

O total de visitantes situou-se em 2022 em cerca de 13 milhões, o que significa que mais do que dobrou o de 2021 (cerca de 6 milhões) e, talvez mais relevante, que superou já os registados em 2019 (12,7 milhões), ano em que se havia observado o maior número de ingressos de toda a série (gráfico 1). Parece assim ter sido ultrapassada a forte depressão verificada nos dois anos da pandemia por Covid-19 e retomada a tendência de crescimento que os dados de 2017 a 2019 mostravam. Para isso muito contribuiu, como seria de esperar, a retoma do turismo no país, mas importa notar que a percentagem de estrangeiros está ainda muito longe da verificada em 2019 (70,9% contra 52,6% em 2022), embora signifique um aumento face à de 2021 (nesse com 45%). Ou seja, o padrão dominante – que na pandemia era maioritariamente de visitantes nacionais - tem vindo a aproximar-se da estrutura típica do período pré-pandemia, mas os nacionais ainda mantêm um peso muito significativo.

3 - Gráfico 1.png

Categoria arquitetónica

Em 2022, verifica-se que os monumentos de arquitetura religiosa continuam a constituir a maioria dos MN visitáveis (60,0%), a que se seguem os de natureza militar (28,0%). Com ligeiras variações percentuais estas duas categorias mantêm-se como as mais comuns e representam em conjunto nove em cada dez monumentos visitáveis (quadro 2).

4 - Quadro 2.png

Entidade de gestão

A Igreja Católica é a entidade responsável pela gestão da maior parte dos MN visitáveis, posição que sai reforçada com as novas entradas no conjunto de MN em análise (36,4% em 2022). Juntamente com outras entidades, o setor privado gere quase metade dos MN visitáveis em Portugal (48,0% em 2022), numa tendência de crescimento que se tem vindo a verificar desde 2019 (quadro 3). Com menor incidência, os MN sob gestão mista, que também têm vindo a crescer, situam-se, em 2022, nos 4,0%. Em relação ao setor público (responsável pela gestão de 48,0% dos MN visitáveis em 2022), os municípios são a entidade de gestão mais frequente (29,8% em 2022), que mantêm uma tendência de subida verificada desde 2019 (24,1%); por outro lado, o Ministério da Cultura tem vindo a ser responsável por uma percentagem cada vez menor de MN visitáveis (14,7% em 2022 contra 19,1% em 2021), tendência que se observa desde 2019 (24,7%).

5 - Quadro 3.png

Recursos humanos

Relativamente aos recursos humanos, o número total de pessoas ao serviço nos MN visitáveis em 2022 é 1.539, o que significa um acréscimo de 267 pessoas (20,9%) face a 2021 (gráfico 2). A evolução ao longo do período em análise evidencia a quebra verificada nos anos da pandemia, sobretudo em 2021, mas que parece estar já numa trajetória de recuperação e crescimento, embora importe ter em conta na leitura destes dados o impacto o aumento dos MN observados, como assinalado acima. No caso dos trabalhadores no quadro, 935 do total de pessoas ao serviço em 2022 (cerca de 6 em cada 10), verifica-se igualmente uma recuperação, embora menos acentuada (15,3%) (de novo importa ter presente o acréscimo que advêm dos novos MN em análise), o que significa que o referido aumento dos recursos humanos se deve ainda em especial a trabalhadores com vínculos precários.

6 - Gráfico 2.png

Nota metodológica:

A metodologia do estudo é quantitativa, de inquérito por questionário, autoadministrado, com preenchimento numa plataforma online (Qualtrics). A periodicidade da recolha e da divulgação de resultados é anual. Os dados podem ser atualizados retrospetivamente com a inclusão de novos registos (MN que não responderam nas edições anteriores ou que, entretanto, foram classificados e cumprem os critérios do estudo) e de novos dados (por não resposta ou revisão das respostas posteriormente à submissão do questionário) (Neves et al., 2021, pp. 7-9). 

O trabalho de terreno do Estudo Da Salvaguarda à Valorização: Os Monumentos Nacionais de Portugal e a Abertura ao Público em 2022 foi realizado no OPAC entre maio e setembro de 2023.

Referências:

Neves, J. S., Macedo, S. C. & Santos, J. (2020), Cultural Heritage Valorisation and the public access to National Monuments”. In R. Amoêda, S. Lira & C. Pinheiro (Eds.), Heritage 2020 Proceeding of the 7th International Conference on Heritage and Sustainable Development Vol. 1. (pp. 27-37), Green Lines Institute for Sustainable Development. 

Neves, J. S., Macedo, S. C., Santos, J. & Miranda, A. P. (2020a), Da Salvaguarda à Valorização: Os Monumentos Nacionais de Portugal e a Abertura ao Público – Primeiros Resultados. Observatório Português das Atividades Culturais, CIES-Iscte.

Neves, J. S., Macedo, S. C., Santos, J. & Miranda, A. P. (2020b), Da Salvaguarda à Valorização: Os Monumentos Nacionais de Portugal e a Abertura ao Público em 2019, Observatório Português das Atividades Culturais, CIES-Iscte.

Neves, J. S., Macedo, S. C., Lima, M. J., Santos, J. & Miranda, A. P. (2020c), Os Monumentos Nacionais de Portugal e a Abertura ao Público: impactos decorrentes da COVID-19. Relatório. Observatório Português das Atividades Culturais, CIES-Iscte.

Neves, J. S., Macedo, S. C., Santos, J. & Miranda, A. P. (2021), Da Salvaguarda à Valorização: Os Monumentos Nacionais de Portugal e a Abertura ao Público em 2020. Observatório Português das Atividades Culturais, CIES-Iscte.

Santos, J., Macedo, S. C., Neves, J. S., & Miranda, A. P. (2022). O património imóvel avesso à estatística? Os monumentos nacionais e o acesso público. Sociologia On Line, 30, 30-58.

Como citar: Macedo, S. C. & Lima, M. J. & Neves, J. S. & Santos, J. (2023). Os Monumentos Nacionais de Portugal e a                                     abertura ao público (2017-2022): principais indicadores. OPAC-Observatório Português das Atividades Culturais,                      CIES-Iscte. DOI: https://doi.org/10.15847/CIESOPACIC032023

bottom of page